Porque o carro elétrico está longe de ser uma realidade no Brasil?
- Rodolfo Guimarães de Oliveira
- 30 de abr. de 2022
- 4 min de leitura
Problemas passam por falta de políticas publicas adequadas, matriz elétrica ineficiente, problemas estruturais e desvalorização do seminovo.
SÃO PAULO - É fato que combustíveis fósseis são findáveis e que como visto ao longo dos últimos meses de 2022, precisamos de soluções mais eficientes, limpas e renováveis.
No esforço de se verem livres da dependência de combustíveis fósseis, a Comissão Europeia prevê tirar carros com motor a combustão do mercado em 2035, uma realidade não tão distante. No mesmo prazo, a Califórnia -um estado dos Estados Unidos e onde se encontra a maior empresa de carros elétricos do mundo- também proibirá venda de carros que não sejam elétricos e na China, maior mercado automotivo do mundo e responsável por 45% das vendas de carros elétricos em todo mundo, também já determinou data para o fim dos carros movidos por combustão.
Enquanto isso aqui no Brasil os carros elétricos são vistos como carros de luxo, com preços muito acima dos modelos movidos a combustão, sem incentivos para proprietários, com poucas ofertas de modelos de carros e sem uma legislação determinada que incentive a transição da indústria para a eletrificação.
Mas afinal, os carros elétricos são tão ecológicos assim?
Por incrível que pareça, nem de longe existe consenso de que um carro elétrico é mais ecológico que um carro a combustão.
Excluindo a fabricação da bateria, a estrutura de um veículo elétrico não diverge tanto assim de um veículo convencional, ao levarmos em conta que a humanidade é extrativista, a fabricação de um veículo, ainda que seja elétrico, necessitará de aço, plástico, alumínio, borracha, cobre, algodão, couro e outros insumos que só a extração da natureza nos oferece.
Agora vamos focar somente na fabricação das famosas baterias automotivas de veículos elétricos. Além de conterem em suas composições alumínio, aço e plástico, a fabricação de uma única bateria de 400 quilos com capacidade de 50 kWh, necessita de metais cuja extrações deterioram o meio ambiente e criam explorações nada sustentáveis e até escravocratas. Ao vermos por esse ponto, notamos que a simples fabricação do veículo elétrico já não é tão ecológica assim.

A indústria automobilística também não fechou consenso no assunto da reciclagem das baterias. Com uma vida útil de cerca de 15 anos, a reciclagem dessas baterias ainda é uma discussão ainda muito rasa, com altos custos de manuseio e de reciclagem.
A Volvo, uma das montadoras mais engajadas na eletrificação automotiva e que pretende comercializar somente veículos elétricos até 2030, encomendou uma interessante pesquisa que revela que a produção do elétrico pode gerar até 70% mais emissões que o tradicional, de combustão. Essa pesquisa contabiliza desde a extração da matéria prima, seus transportes e processos industriais. Acrescenta então o volume de gases carbônicos emitidos nos primeiros 200 mil km de uso do veículo, estabelecendo uma média entre a energia elétrica gerada para recarregar baterias de origem renovável (solar, eólica) e a tradicional (usinas térmicas, carvão).
O Brasil está pronto para os veículos elétricos?
Já vimos que a legislação brasileira passa longe de incentivar a indústria nacional e que em comparação a outros países, a oferta de modelos por aqui é muito baixa e com preços de compra desses veículos absurdamente mais alta que os demais modelos, porém, por incrível que pareça, esses não são os maiores empecilhos que travam o futuro dos veículos elétricos no Brasil.
Com cerca de 65% da geração de energia através de hidroelétricas, o Brasil é sim um dos países com maior geração de energia limpa em todo mundo, mas ao longo dos últimos anos as mudanças climáticas nos mostraram que a falta de água nos reservatórios é um ponto crítico na geração de energia e que se o Brasil retomar seu ritmo de crescimento com patamares de modestos 5 a 8% haverá uma ruptura por falta de geração de energia. Isso implica diretamente na realidade dos carros elétricos no Brasil.

Em um país continental com economia baseada em transporte rodoviário, a malha de estradas brasileira é enorme e nesse ponto a autonomia dos carros elétricos torna-se outra desvantagem. Com autonomia média de 400 km, um carro elétrico não possibilita sequer uma viagem tranquila entre Rio de Janeiro x São Paulo e se o condutor quiser recarregar a bateria em um dos raros postos de recarga, ainda terá de esperar cerca de 7 horas para ter a sua bateria totalmente recarregada.
Já que tocamos no assunto de recarga, outro problema que proprietários de carros elétricos já enfrentam é a estrutura em suas casas e condomínios que são inexistentes, ou quando há, não são suficientes para os poucos proprietários de veículos elétricos. Esse problema aumenta quando necessitam recarregar o veículo em seus locais de trabalho.
A desvalorização do veículo usado é mais uma desvantagem que os proprietários de veículos elétricos e híbridos enfrentam. Com média de vida útil de 15 anos, as baterias geralmente possuem 8 anos de garantia, ou 160 mil km e quando os veículos chegam perto do fim dessa garantia, seus preços despencam, depreciando seu valor de marcado acima dos demais veículos.

Por fim, a falta de mão de obra qualificada para lidar com a tecnologia de veículos elétricos, é uma das últimas desvantagens enfrentadas pelos proprietários de veículos elétricos. A falta de qualificação profissional de técnicos e mecânicos faz com que poucos profissionais se arrisquem na manutenção desses veículos e como há escassez de mão de obra, o custo desse profissional é mais elevado do que os carros convencionais.
Todos os pontos levantados nessa matéria são reversíveis, para que o carro elétrico seja uma realidade brasileira. Serão necessários esforços governamentais para incentivar todos os elos da indústria e a aquisição desses modelos, esforços das montadoras em solucionar problemas de custos e qualificação de mão de obra para todo mercado e acima de tudo um planejamento de matriz elétrica brasileira que possibilite o aumento da oferta de energia e a distribuição desses pontos que possibilitem a realidade de uma frota circulante de carros elétricos.
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